segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PAZ NO MUNDO CAMARÁ é inclusão sócio-cultural e valorização das culturas de raiz

Por Carem Abreu

Em 2004 Gilberto Gil, então Ministro da Cultura, esteve em Genebra participando de uma Conferência na ONU, onde afirmou: a capoeira “é o ícone cultural brasileiro perante os povos”. E mais: ela se tornou “uma mandala da dança pela paz mundial”. Como sou angoleira, jornalista e pesquisadora da história da capoeira, esta afirmação me intrigou: a prática da capoeira foi o primeiro crime instituído pela República (Artigo Art. 402, do Capítulo XII - Dos Vadios e Capoeiras- do Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1889). Sua prática foi difundida como “coisa de malandro”. Logo me surgiu uma indagação: quais teriam sido, então, os “movimentos” sócio-culturais realizados pela capoeira angola (pois a capoeira regional foi criada somente em 1938), para em menos de um século, deixar de ser vista como uma prática da tão discriminada “escória da sociedade” (leia-se: negros em busca da libertação) em um instrumento de paz mundial?

Também já havia comprovado, através de modestas pesquisas realizadas até aquele momento que, apesar de ser um estilo de vida tipicamente afro-brasileiro com filosofia própria, a CAPOEIRA ANGOLA, por ser uma prática de raiz, realizada até os dias de hoje em sua maioria por pessoas negras, de baixo poder aquisivo, num processo de exclusão sócio-cultural (ao contrário da Capoeira Regional amplamente difundida pelos brancos, e óbviamente, pela classe dominante) NÃO POSSUIA UM MATERIAL AUDIOVISUAL abrangente. Algo que demonstrasse sua REAL CONTRIBUIÇÃO no contexto histórico-social brasileiro, bem como na identidade cultural de nosso povo. Para tanto, nós da ATOS Central de Imagens e da ACESA, criamos em 2005 o projeto “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá”. Ele obteve em 2008 o patrocínio do Fundo Estadual de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura de MG. O projeto também foi um dos seis contemplados em MG do “Prêmio Capoeira Viva”, do Ministério da Cultura.

Somando os recursos obtidos vimos que haviamos conquistado apenas 43% do montante necessário para a realização do projeto. Como somos discípulos de uma prática cultural de resistência social, resistimos uma vez mais. Como nossos antepassados, utilizamos os parcos recursos obtidos como um start de uma ação, que resulta de uma busca ancestral, de mais de 400 anos: a disseminação social dos saberes afro-descendentes e sua valorização institucional. Assim, realizamos nestes dois ultimos anos uma APROFUNDADA e INÉDITA PESQUISA sobre a trajetória da Capoeria Angola no Brasil, desde sua origem, seja ela no Quilombo dos Palmares, na Bahia, em Pernambuco ou no Rio de Janeiro, até o seu momento contemporâneo: Belo Horizonte (MG) nos últimos 10 anos vem se tornado um centro formador e exportador de “angoleiros” para o Brasil e para o mundo, e também um novo cenário da capoeiragem no Brasil.


Com humildade apresentamos hoje para a comunidade angoleira os produtos culturais derivados de nossa luta pela valorização da cultura popular. Agradecemos de público a todos os profissionais, entrevistados e pessoas envolvidas no projeto. Todos aceitaram trabalhar nele recebendo por seus serviços, no máximo, 20% do valor de mercado. Sem essa atitude comprometida de vocês nada disso seria possivel! Valeu mesmo! Muito Axé!

"PAZ NO MUNDO CAMARÁ" EM NÚMEROS:

25 mestres de capoeira angola entrevistados
18 mestres da cultura popular/ agentes culturais envolvidos
8 pesquisadores entrevistados
5 estados pesquisados
58 locações (15 MG, 25 RJ, 12 BA, 5 PE, 1 AL)
40 profissionais envolvidos
25 alunos instruidos
5 anos de produção

Confira o conteúdo do DVD e do SITE.

Um comentário:

  1. Confesso que sou fã dessa grande pequena mulher. Desde sempre batalhando por seus objetivos. Admiro sua coragem e determinação.
    Desejo muito sucesso pra você e pro dvd!

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